Greves em setores vitais – como educação, saúde e transportes públicos – acabam, fatalmente, por penalizar a parcela carente do conjunto da população, refém histórica do poder público, invariavelmente incapaz de suprir as demandas que deveria contemplar. Desse estigma não escapa a greve dos professores deflagrada pelo Sintepp, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará, declarada ilegal pelo juiz Elder Lisboa Ferreira da Costa (foto), da 1ª Vara da Fazenda Pública de Belém, a pretexto de que a paralisação prejudica os alunos. Os grevistas reivindicam o pagamento do piso salarial da categoria, de R$ 1.187,00, que o governo Simão Jatene alega não ter condições de bancar imediatamente, em uma única parcela, por supostos problemas de caixa.
O inusitado, na decisão do juiz Elder Lisboa, ao julgar a greve abusiva, é que a manifestação do magistrado tem como cenário a suposta radicalização por parte dos grevistas, sem considerar que a paralisação tem como combustível a postura claramente intransigente do governo Simão Jatene. O governo que esgrime como álibi, para sua inocultável incapacidade em gerenciar a crise, o impacto na folha salarial, com o pagamento integral do piso salarial dos professores, é o mesmo que promove a escandalosa farra de contratações de temporários, em detrimento dos concursados, à espera, até aqui em vão, de nomeação. E isso tudo sob a cumplicidade da Justiça paraense, cuja balança parece viciada, de modo a favorecer os atuais inquilinos do poder. Ironicamente, segundo os números da própria Seduc, a Secretaria de Estado de Educação, a adesão à paralisação não teria ultrapassado o limite de 43% das 1.200 unidades da rede estadual de ensino.
COMENTÁRIO DO BLOG
Pelo visto eu não sou o único a ver neste episódio da greve dos professores uma relação promíscua entre o executivo e o judiciário no Pará. Vivemos sob o viés do autoritarismo, se os poderes da república se enroscam subservirntemente.