Devagar com o andor que o santo é de barro

 

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Cabe à presidente da República indicar os líderes do seu governo: são funções de exclusiva confiança dela. Nada obstante, ela escolheu mal a hora de fazer o “rodízio”.
Não é aconselhável trocar líderes em ares de turbulências pois embora finjam naturalidade, parlamentares arredados em circunstâncias adversas estocam ressentimentos e, pelas alcovas, trabalharão para desestabilizar quem lhes tomou a função.
A presidente Dilma deveria em primeiro lugar acalmar os ânimos, para na bonança fazer as trocas desejadas.
> Equívoco na identificação das causas
As rusgas no Congresso não têm como causa os líderes do governo: a dificuldade de condução deles é que tem como causa a leniência do governo em estabelecer com o Parlamento um diálogo maduro, que enfoque a necessidade da República realinhar atitudes inconvenientes e não mais toleradas pela nação.
A aversão da presidente ao diálogo político e a falta da intermediação de Lula nesta interface culminou no quadro de amotinação congressual.
> Conselho de Collor por experiência própria
O senador Collor, que foi à guilhotina porque achou que poderia isolar o Congresso a uma indevida insignificância, por próprio denodo aconselhou, ontem, a presidente Dilma a não cometer o mesmo erro: “O Planalto precisa ouvir a Casa do lado. Digo isso com a experiência de quem, exercendo a Presidência da República, desconheceu a importância da Câmara e do Senado. O resultado deste afastamento do Legislativo Brasileiro redundou no meu impeachment.", declarou.
> Correta no conteúdo; equivocada na forma
A relação de puro fisiologismo para sustentar uma coalizão está com os dias contados, todavia não é correto tentar isolar o Poder Legislativo relegando-o ao estorvo da nação: na República todos somos cúmplices e culpados e precisamos purgar, juntos, os nossos vitupérios.
Toda transição demanda zelo. Um condutor cuidadoso é capaz de atravessar intempéries sem perder o prumo. A presidente Dilma está correta no conteúdo, mas comete equívocos na forma como conduz o andor: o santo ainda é de barro.

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