Eleição presidencial no Brasil

Especialista minimiza impacto do voto dos indecisos na reta final
Reprodução
Eleitores voltam às urnas no dia 31 para escolher
entre Dilma e Serra para a Presidência


Embora não seja impossível, as chances de virada no segundo turno da eleição presidencial são muito pequenas, segundo indica a análise de pesquisas de intenção de voto e dos resultados das eleições anteriores. Desde quando o segundo turno foi instaurado no país, em 1988, o Brasil ainda não viu a vitória de um candidato que começou atrás do adversário nesta etapa da disputa.
Entre 1989 e 2006, quando ocorreu a eleição presidencial anterior à deste ano, apenas duas das cinco disputas foram para o segundo turno. Nos outros três pleitos em que a eleição chegou à etapa seguinte – em 1989, 2002 e 2006 –, não ocorreu virada.
Nos três casos, o candidato derrotado começou a campanha no segundo turno já em desvantagem em relação ao vencedor. Foi o que ocorreu com o atual presidente e à época candidato Luiz Inácio Lula da Silva em 1989, quando disputou o segundo turno com o então rival Fernando Collor. Na ocasião, a última pesquisa do instituto Datafolha mostrou o petista com 44% das intenções de voto, contra 47% do rival, que acabou vencendo a disputa.

Já em 2002 e 2006, quando Lula disputou a eleição com os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin, respectivamente, o petista – que acabou saindo vitorioso das duas eleições – ganhou no primeiro turno à frente dos rivais. Na disputa com Serra, pesquisa Datafolha feita na véspera do segundo turno mostrou que Lula teria 64% dos votos válidos (excluindo brancos e nulos), contra 36% de Serra.
Na eleição seguinte, o mesmo instituto mostrava Lula com 61% da preferência do eleitorado a um dia da votação, enquanto Alckmin atingia 39% das intenções de voto.
De acordo com o cientista político Cláudio Couto, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a análise das pesquisas e dos resultados das eleições aponta que a ocorrência de viradas é inferior a 10%, embora o percentual exato seja incerto.
- Pela apuração, é realmente um evento raro a virada do primeiro para o segundo turno. Por exemplo, o Mário Covas virou sobre o Paulo Maluf em São Paulo [na eleição de 1998, quando os dois disputavam o governo estadual], mas o habitual é não haver virada. E eu diria que a tendência desse ano é a mesma.
No primeiro turno da eleição de 2010, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, terminou à frente, após receber 46,91% dos votos válidos, contra 32,61% de José Serra (PSDB), e 19,33% de Marina Silva (PV).
Uma semana depois da votação, pesquisa Datafolha mostrou que a petista se manteve na liderança, com 54% das intenções de voto (votos válidos), contra 46% de Serra. Já na última sexta-feira (22), a candidata ampliou a vantagem na sondagem e obteve 56% da preferência do eleitorado, também considerando apenas os votos válidos, enquanto o adversário obteve 44% (a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos).
Segundo o especialista, casos de viradas estaduais são mais comuns que no cenário nacional, devido ao número de Estados, ou seja, a quantidade de cenários aumenta as chances de mudança no rumo da disputa.
Já na disputa nacional, embora Serra tenha ganhado certo “fôlego” com os votos da concorrente do PV - que decidiu ficar neutra no segundo turno –, o especialista avalia que são poucas as chances de virada, especialmente a uma semana da eleição.
- Quando se olham os números com mais atenção, é possível notar que ele subiu o que se previa que ele subiria com os eleitores da Marina. Ou seja, não era nenhuma subida anormal. O que houve de novidade no primeiro momento do segundo turno, mais que a subida do Serra, foi a queda da Dilma, que conseguiu se recuperar na reta final.
Peso dos indecisos
Ainda segundo a pesquisa mais recente da disputa pelo governo federal, 6% dos eleitores responderam que ainda não sabem em quem votar. Apesar do número relativamente alto – representa cerca de oito milhões de eleitores –, Couto diz acreditar que esse percentual do eleitorado não será capaz de reverter o resultado previsto pelos institutos.
- Os indecisos tendem a se distribuir de forma mais ou menos proporcional entre os candidatos. [...] Se nada de anormal acontecer até o dia da eleição, honestamente, não há razão nenhuma para a gente imaginar que os eleitores iriam 100% para o Serra. E mesmo que fossem [votar em Serra], o que não é muito realista, mesmo assim o Serra não reverteria o quadro.
O segundo turno das eleições presidenciais acontece no próximo domingo (31), quando mais de 135 milhões de eleitores voltam às urnas em todo o país. A votação acontece das 8h às 17h (horário de Brasília), porém, os primeiros resultados da disputa presidencial só devem começar a ser divulgados pela Justiça Federal a partir das 19h, devido à diferença de fuso no território nacional.