AO AMIGO ARIEL CASTRO

Caro amigo Ariel Castro, já lhe verbalizei que minha caminhada nesta vida não teria a mesma significação, se parte dela não tivesse feito ao seu lado. É em nome deste apreço que lhe escrevo para dizer o quanto lamento ter perdido nosso primeiro júri juntos, mesmo sendo simulado, mesmo eu sendo o réu e você o defensor público.
Passei o restante da tarde procurando entender como um júri formado por estudantes de Direito condena um réu por um assassinato o qual não exista nenhuma prova substancial disso. A única prova é testemunhal, de uma pessoa contraditória, e é essa a causa da condenação de um homem. A testemunha disse que o réu havia matado a vítima e depois desdisse. Surpreendeu-me o resultado, não conseguia entender.
Isso me fez passar uma parte da tarde pensando, porque perdemos um júri fácil de ganhar. Após alguma reflexão, cheguei a uma conclusão: “Não tinha como nós ganharmos esse júri nunca”, sabe por quê? Porque cometemos dois erros básicos, imperdoáveis, meu caro:
1-      Nosso primeiro erro foi não ter impugnado três dos jurados que eram policiais, pois nossa tese  perpassava pelo descredenciamento do inquérito policial, logo da polícia e pela afirmação de que  a primeira declaração de Sueli fora fruto de violência policial. Eles jamais votariam nessa tese, dado o alto grau de corporativismo profissional. Neste momento perdemos três votos dos onze, só ficaram faltando mais três para a condenação.
2-      Perdemos os outros três, além de outros por causa da minha desenvoltura como réu, foi deprimente, fui machista na minha abordagem sobre Sueli, fui agressivo com a promotora. O júri tinha quatro homens, destes, três policiais; e oito mulheres, tínhamos alguma chance? Não tínhamos!!
Sem dúvida a atividade foi muito proveitosa, aprendi muito, principalmente porque perdemos.  Por isso todo bom educador valoriza o erro, por isso todo grande cientista nunca joga os papéis com erros fora. Os erros às vezes ensinam mais, permitem maior abrangência de relações sinápticas que os acertos.
Caro amigo, por ter chegado a essa conclusão, agora estou mais tranquilo, uma grande abraço.