PARSIFAL FONTES

ÍCARO SEM ASAS

Ai serras da minha terra
Ai mares que só são rios
Ai terras destas planícies
Que planaltos querem ser
São verdes estes meus vales
São negras estas crateras
São terras do meu viver.

Quero cantar estas plagas
Quero boiar nestas vagas
Mergulhar nestas chapadas
Morrer nestas madrugadas.
Correr por entre estas terras
Dormir no cume das serras
Pra depois ressuscitar
Nas asas desta agonia
Nestes rios que só são mar.

Como eu amo estas paragens
De planícies sorrateiras
De finadas cachoeiras
Dos galhos das castanheiras
Que hoje são invernadas
Destas terras já queimadas
Que hoje são capoeiras.

Que depois da coivara
Se deitam nas ribanceiras
E matam a sede do chão
E brotam como semente
Deste meu peito silente
Que ampara esta solidão.
A solidão destas serras
Das planícies desta terra
Que planaltos querem ser.

Voando nestas paisagens
Feito um Ícaro sem asas
Com asas no coração
Com o coração nesta terra
Com esta terra na mão
Que afaga o verde das matas
Que rola pelas ladeiras
Que cai nestas capoeiras
Que bebe nestes riachos
Que aqui busca regaço
Pro apertado coração.

Coração que é uma planície
Deitado sobre esta terra
Que bate e que se agonia
Que baila e que rodopia
Do alto desta paisagem.

Que mergulha neste rio
Que treme quando faz frio
Que chora quando se lança
Que para quando se cansa
Que levanta em frenesi
Quando a vida se faz curta
Quando o tempo não escuta
Quando é breve este porvir.

Coração apaixonado
Que grita em peito calado
Que voa como andorinha
Nestas terras e estas serras
Nestas curvas deste rio.

Coração não te aquieta
Não bate assim devagar:
Explode nestas quimeras
Espalha-te nestas serras
Deste Sul do meu Pará!