Delegados respondem à juíza sobre acusação de tortura no caso Eliza


A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, de Contagem, fez algumas perguntas a três delegados que estavam no fórum, na noite desta quinta-feira (14), após o encerramento do depoimento do policial civil que recebeu a primeira denúncia de um crime que teria sido cometido no sítio de Bruno. A magistrada perguntou aos três se eles sabiam que estão sendo acusados por advogados dos réus do processo do desaparecimento e morte de Eliza Samudio de que teriam torturado Dayanne Souza, durante o testemunho dela em julho, no Departamento de Investigações em Belo Horizonte.

Ao delegado Edson Moreira, chefe do Departamento de Investigações de Belo Horizonte, a juíza perguntou se ele sabia que foi acusado pelos advogados de defesa de corrupção passiva e tortura. O delegado afirmou que sabia, por meio da imprensa. Ao ser perguntado a que ele atribuía essa denúncia, ele disse que, quando a defesa não tem argumento, ela ataca a autoridade policial.

A juíza, em seguida, perguntou à delegada Alessandra Wilke, de Contagem, se ela sabia da denúncia de tortura que pesa contra ela, apresentada pela defesa da Dayanne. A delegada disse que sabia e que foi instaurado um procedimento na Corregedoria da Polícia Civil para apurar a denúncia. Segundo Alessandra, o fato já foi esclarecido na Corregedoria.

A magistrada fez a mesma pergunta à delegada Ana Maria dos Santos, também de Contagem. A delegada respondeu que sabia da denúncia, por meio da imprensa, inclusive internacional, e que foi instaurado um procedimento na Corregedoria da Polícia Civil para apurar o fato. Ana Maria completou se dizendo ofendida com a acusação, porque isso “são falácias”.

O advogado de Dayanne, Francisco Simim, disse que não pode falar sobre essa denúncia porque defende Dayanne há cerca de 30 dias e, à época, não estava no caso. A Corregedoria da Polícia Civil foi procurada pelo G1, mas ninguém foi encontrado para falar sobre o assunto.

No dia 19 de julho, o advogado Ércio Quaresma, defensor de Bruno, e que, à época, defendia Dayanne, disse que a polícia teria torturado Dayanne, perguntando se ela sabia como “desossar”. No dia 16 de julho, Dayanne prestou depoimento por cerca de 13 horas no DI, e só terminou na madrugada do dia 17.

Noiva de Bruno - A noiva do goleiro Bruno, Ingrid Oliveira, esteve no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de BH, por cerca de 10 minutos, na tarde desta quinta-feira (14). Segundo o advogado Francisco Simim, que defende a esposa de Bruno, Dayanne Souza, e conversou com Ingrid no fórum, a moça teria gravações de áudio com as ameaças feitas por Ércio Quaresma. Simim disse ainda que em um momento oportuno Ingrid deve usar essa fita.

O advogado Ércio Quaresma nega as ameaças à noiva de Bruno. Segundo Quaresma, ele falou com Ingrid por telefone apenas duas vezes, e se ela tiver mesmo estas gravações, que apresente a imprensa. "Quero degustar estas gravações por cada segundo, cada frame", disse Ércio.

Impedida de entrar na sala de audiência, Ingrid fez um coração com as mãos pela fresta da porta. Bruno sorriu ao ver o gesto da noiva. Ingrid Oliveira chegou sozinha ao fórum de Contagem e logo foi embora, por causa do assédio da imprensa. Ela deve ficar em Minas até sábado, segundo o advogado.

No Fantástico deste domingo, Ingrid falou que o advogado de Bruno, Ércio Quaresma, faz ameaças para não deixar a defesa do goleiro. Bruno teria trocado de advogado, mas teria voltado atrás depois de se reunir com Quaresma na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de BH.

Na noite desta quarta-feira (13), quando saia do hospital, Bruno disse que Quaresma “é um pai” para ele. O goleiro disse também que Ércio não fez ameaças a ele e nem a sua família. Durante a audiência desta quinta-feira (14), a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues solicitou a presença do goleiro Bruno, que respondeu a uma pergunta. A juíza perguntou ao réu se, em algum momento do processo, ele sofreu ameaças. Bruno negou e reafirmou que nunca foi ameaçado pelo advogado que o defende, Ércio Quaresma.

Pedido de desculpas - Ao fim do depoimento da funcionária do sítio de Bruno, o advogado Ércio Quaresma pediu a palavra à juíza e se desculpou ao advogado de Sérgio Rosa Sales, Marco Antonio Siqueira, por qualquer desentendimento que eles tenham tido em outras audiências. Após o pedido de desculpas, Siqueira disse que aceita o pedido de desculpas de Quaresma e que considera “o caso como encerrado”.

Nesta quarta-feira (13), o advogado Marco Antônio Siqueira havia anunciado que iria renunciar à defesa do cliente no processo que investiga o desaparecimento de Eliza Samudio. O advogado alegava que foi ameaçado por Ércio Quaresma, que representa o goleiro Bruno. Segundo Siqueira, o motivo dessas ameaças seria porque ele não faz parte do ‘bloco de advogados’ que está defendendo os réus.

Siqueira afirma que decidiu deixar o caso na sexta-feira (8) e conta que, durante uma discussão, Quaresma teria dito que “ele podia esperar, pois o que era dele estava guardado”. Ele disse ainda, que os familiares de seu cliente dizem estar sendo ameaçados para que Sérgio troque de advogado. “Todos vocês viram o Ércio Quaresma me ameaçar. Se algo acontecer vocês já sabem quem foi”.

Audiências anteriores - Nesta quarta-feira (13), um caseiro do sítio do goleiro, em Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi o primeiro a responder às questões da juíza. Na sequência, a mulher dele começou a prestar depoimento que foi interrompido.

O Tribunal de Justiça disse, anteriormente, que a juíza iria ouvir quatro delegados da investigação sobre o desaparecimento e morte de Eliza Samudio, mas, no início da tarde de ontem, Marixa informou que os quatro delegados devem ser ouvidos nesta quinta (14), também no Fórum de Contagem.

Segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, essas audiências estão sendo realizadas para que a juíza Marixa, de Contagem, tome conhecimento de todos os fatos do processo apresentado pelo Ministério Público e decida se os réus serão pronunciados ou não. De acordo com o TJMG, a magistrada pode decidir julgamentos diferentes para os acusados. Dessa forma, se houver uma decisão por um julgamento no Tribunal do Júri, pode ser que nem todos sejam julgados por este tribunal. E os crimes pelos quais os réus são acusados podem sofrer alterações no julgamento. O Tribunal de Justiça explicou que esta fase do processo não tem prazo definido.

Na entrada do fórum de Contagem, o advogado de Bruno, Ércio Quaresma, disse "eu não ameaço, eu faço", em referência à denúncia do Fantástico sobre possíveis ameaças que o defensor estaria fazendo ao goleiro Bruno e a amigos e familiares. A dentista Ingrid Oliveira, noiva do goleiro, disse que defensor orientou Bruno a tentar suicídio na cadeia. “Ele falou que teria sido orientado pelo advogado a cortar os pulsos pra ver se ele conseguiria algum tipo de regalia”, contou.

O delegado Júlio Wilke, que participou das investigações, foi ouvido por mais de 13 horas na sexta-feira (8). Na mesma sessão, o adolescente envolvido no desaparecimento de Eliza Samudio também respondeu às perguntas da juíza Marixa. Em seu depoimento, o menor afirmou que o homem indicado como Bola pelo inquérito, e que está preso, não é o Bola que ele conhece. O adolescente ainda pediu desculpas por apontar o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos como o responsável pela morte de Eliza. O delegado Wilke disse, em seguida, que o menor indicou com detalhes a casa do ex-policial, em Vespasiano, e que o adolescente sabia até como eram os cômodos da casa.

Em Vespasiano, na quinta (7), nove testemunhas de defesa, que conhecem o ex-policial prestaram depoimento à juíza Ana Paula Lobo Pereira de Freitas. Todas foram unânimes ao dizerem que nunca viram o ex-policial Santos ser chamado de Bola.


Em Ribeirão das Neves, na quarta (6), cinco testemunhas foram ouvidas. Na sessão, Bruno passou mal e precisou ser levado à Policlínica da cidade, e depois, para o Pronto-Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, após desmaiar duas vezes.

Entenda o caso - O goleiro Bruno é réu no processo que investiga a morte de Eliza Samudio. A Justiça de Minas Gerais aceitou a denúncia do Ministério Público contra Bruno e outros oito envolvidos no desaparecimento e morte de Eliza. Fernanda Gomes de Castro, namorada de Bruno, foi presa em Minas Gerais.

O goleiro; Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão; Sérgio Rosa Sales; Dayanne Souza; Elenilson Vítor da Silva; Flávio Caetano; Wemerson Marques; e Fernanda Gomes de Castro vão responder na Justiça por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado, ocultação de cadáver e corrupção de menor. Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, é o único que responderá por dois crimes. Bola foi denunciado por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Todos os acusados negam o crime. As penas podem ultrapassar 30 anos.

A pedido do Ministério Público, a Justiça decretou a prisão preventiva de todos os acusados. Com essa medida, eles devem permanecer na cadeia até o fim do julgamento. Em 2009, Eliza teve um relacionamento com o goleiro Bruno, engravidou e afirmou que o pai de seu filho é o atleta. O bebê nasceu no início de 2010 e, agora, está com a mãe da jovem, em Mato Grosso do Sul.


Fonte: G1