Quem sou eu? (Mas há algo de podre no reino da última flor do Lácio)

 

Terminei o último artigo prometendo aprofundar a reflexão sobre o critério semântico, esclarecendo porque ele é um “canto de sereia”.
A grande sedução da semântica, enquanto critério de classificação morfológica, é a sua aparente facilidade.
Observe o exemplo, caro leitor, para entender o que digo.
Se perguntássemos a qualquer aluno, quais os substantivos da frase “ O nada é o grande paradoxo do homem elefante”? Eu não tenho dúvidas de que duas situações ocorreriam: Extrema dificuldade seria apresentada para classificar como substantivo as palavras “paradoxo” e “nada”, cada uma pela sua razão, a outra seria a irresistível tentação, é a isso que chamo de canto da sereia, de dizer substantivo a “elefante”, talvez por isso, por ter se encantado no canto da sereia, até você, caro leitor, tenha se surpreendido ao saber que “elefante”, na oração acima, não é um substantivo, sim um adjetivo.
Por que esses problemas ocorreriam de fato?
Como a forma de ensino hegemônica nos doutrina, com base em critérios semânticos, que substantivo é a palavra que dá nome aos seres, como o leitor reconhece “elefante” como um ser, a conclusão lógica é óbvia, já com a palavra “nada” ocorreria exatamente o contrário, pois como o aluno reconhece que “nada” é a ausência de um ser, dificilmente o reconhecerá como um substantivo ignorando assim a forte e marcante presença do artigo, o Midas do substantivo, tudo em que toca vira substantivo; “paradoxo” não tem nem como ser analisado porque não se sabe o significado, outra falha desse critério pois se o aluno não sabe o que significa a palavra não consegue analisá-la.
Dessa forma o aluno só consegue fazer análises em frases aprisionadas como um leão na jaula cujos olhos já não brilham, onde ele encontrará o mesmo tipo de estrutura já memorizada, não consegue compreender a lógica que envolve as relações morfo –sintáticas, muito menos suas implicações na concordância e na regência, e o pior de tudo, ignorando as intenções comunicativas que as escolhas paradigmáticas na relação morfo-sintática denunciam. Isso gera dois problemas, na selva real do texto o leão não está preso, assim fica muito mais difícil subjugá-lo, o outro é fazer com que os alunos não consigam interpretar e escrever texto. Se eu não sei o que é um sujeito, não sei identificá-lo, ignoro sua importância para a construção da mensagem e dos valores comunicativos e argumentativos, como eu posso compreender bem um texto, fazer uma boa leitura?
Há algo de errado nesse ensino de língua portuguesa. Eu apenas acho, afinal quem sou eu...?
Não sou um gramatiqueiro, mas não abro mão do conhecimento gramatical para a compreensão textual, o que mais assusta e ver a forte tendência da linguística textual atropelar o ensino de gramática, não é que não sejam importante porque o são e muito, no entanto esse belo ensino não pode aposentar o estudo de gramática , o meu questionamento é quanto a forma como o ensino de gramática é feito, ou seja , não é feito, por que poucos a aprendem.