A parábola da certeza. Ou será da dúvida?

 

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Tenho recebido telefonemas de amigos do Sul do Pará. O tema é o plebiscito. O tom é como se a coisa fosse uma corrida e eles acham que “nós” não estamos correndo o suficiente para cortar a linha de chegada à frente “deles”.
O “nós” são os favoráveis à divisão. Os “eles” são os que se batem contra a divisão. A recíproca, também, é verdadeira, cá na Corte.
Explico que a discussão se equivocou no objeto, em uma metonímia torta: éramos para estar discutindo a divisão territorial do Pará e não a divisão entre “nós” e “eles”.
Era para estamos tirando dúvidas sobre as pertinências e não para estarmos cuspindo intolerância e escarrando estupidez sobre as impertinências.
A tentativa de racionalizar o debate, erigindo, cada qual, a sua inexorável verdade, acabou, enchendo “nós” e “eles” de certezas. As certezas causaram, e ainda causam, todas as guerras do mundo: só dá o primeiro tiro quem tem certeza.
São as “nossas” certezas, e as “deles”, que nos impedem de travar um debate mais consequente nesta questão: um não deseja ouvir as razões do outro, e quando aportamos neste tipo de ribanceira é sinal que as tochas já podem estar ardendo para incendiar os navios nas fogueiras das vaidades “nossas” e “deles”.
Pode ser, penso cá com meus rotos botões, que seja possível voltar nadando, mas, nesta empreitada, alguns se afogarão.
Inobstante, “com certeza”, os “nós” e “eles”, que usam platinadas abotoaduras, podem torcer os ombros e debochar: “quem for fraco que se afogue.”.
Com certeza, Caetano tinha toda a razão: “enquanto os homens exercem seus podres poderes, motos e fuscas avançam os sinais vermelhos e perdem os verdes. Somos uns boçais.”.
Ou será que não? Fiquei na dúvida...

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