NOJENTO

Política é coisa nojenta, dizem muitos, hoje vou concordar com isso, mas não pelo mesmo motivo das pessoas que dizem.

Em geral as pessoas dizem que política é uma atividade nojenta por conta dos políticos, eu digo que é por causa de alguns eleitores.

Conversando com as pessoas por onde passo nas minhas relações sociais cotidianas, pergunto se elas já têm candidato. Uma me disse que votaria em candidato tal porque foi quem fez o cadastro para doação de casa do governo federal e nenhum candidato fez oferta melhor, o outro não vai apoiar o Ricardo do Meio Ambiente, porque o Ricardo não pagou o licenciamento atrasado de seu veículo, um outro para apoiar o Evandro pediu as parcelas atrasadas de sua moto e o licenciamento, como não recebeu, hoje anda falando mal do prefeitável, por meio salário mínimo que um candidato está lhe pagando e por aí vai.

Chega o período eleitoral e muitos eleitores verem nisso uma forma de resolver problemas em suas vidas, veem os políticos como uma oportunidade de se dar bem, depois essas mesmas pessoas irão falar mal dos políticos que elegeram.

Isso gera um círculo vicioso onde o político precisa de dinheiro para atender as demandas pessoais dos eleitores, sem atender estas demandas dificilmente consegue vencer, por esta razão muitos políticos sangram o erário público para ter dinheiro para as campanhas, o PT cresceu assim, vide o exemplo do Puty e do Chico da Pesca, o Jáder também segue esta lógica, assim como todos os outros políticos profissionais, só se perpetua no poder quando encontra um sangradouro. É possível até chegar ao poder por outra via, mas se manter, só é possível sangrando o Estado.

Vez por outra passo por estas situações de pessoas tentarem vender seu voto para mim, não sei porque as pessoas pensam que eu sou candidato, as que me conhecem eu até compreendo, mas as que eu nunca vi, não.

Estive em visita a casa de um primo meu que há tempos cobrava-ma, ao chegar em sua casa havia dois homens na frente da casa, perguntei se era a casa do meu visitado, confirmado, desci do carro, dirigi-me aos homens, apertei-lhes a mão e entrei pelo quintal adentro. Ao sair da casa já não havia só duas pessoas na frente da casa, já havia sete, claro que imediatamente eu já havia entendido o porquê daquele alvoroço. O pior é que eu fico logo puto com isso, detesto eleitor que vende seu voto, tenho nojo, pois tenho a consciência que a verba que falta para saúde, para educação , para a segurança é culpa deste tipo de eleitor primariamente, só secundariamente é dos políticos.

Passei com certa pressa por óbvio, dei boa-tarde a todos, estranhei que chegeui ao carro e ninguém me chamou, pensei até que eu havia feito uma má avaliação da situação. Abri a porta do carro, entrei, quando olhei pelo retrovisor, estava chegando um vendedor de voto pela minha lateral, eu podia ter ligado o carro rápido e arrancado, deu-me vontade de fazer isso, entretanto seria de uma tremenda falta de educação, este pensamento fez-me ficar esperando a abordagem:

- O senhor é candidato a quê?

Naquele momento deu-me uma felicidade tremenda de não ser candidato a qualquer coisa.

- A nada!

O imundo não se contentou, duvidou de minha resposta, imagine a audácia? Imagine o quanto ele estava determinado a arrancar alguma coisa de mim como candidato?

-E esse 15 e 15 aí atrás?

- É o número do Evandro!

-Ah tá!

Após a interjeição final, ele estendeu o polegar para mim em sinal de positivo, como quem dizia; "pode sair, está liberado!".

Esse assédio deixou-me mal o restante do dia. Deixa-me mal porque eu fico sem conseguir pensar em outra coisa, fico só remoendo os eventos, as falas, os gestos, as caras (safadas)...

Cheguei em casa e falei para a Sheila sobre o terrível incidente. Ela considerou, se comigo que não sou candidato a nada é assim, imagine para candidatos como o Evandro, o Dr. Gilberto, Nunes, Tony, Cadinho... onde chegam sofrem esse tipo de assédio.

É como eu digo: Não é fácil ser candidato.