Posted by BLOG DO BRUNO MARQUES in on 05:50
O mundo da política o fascinava. Nascera e crescera escutando as conversas de seu pai sobre o "processo de estagnação econômica" "o sopro inflacionário" e todos esses dialetos do bom e velho politiquês tupiniquim.
Sua mãe passara toda a gravidez escutando discursos políticos intermináveis e tediosos para despertar já no ventre sua vocação para a linguagem. E o pior, o resultadao foi além das expectativas: ao invés do tradicional mingal, o bebê já falava "traga-me aquela iguaria de consistência pastosa e gelatinizável".
Mais impressionante foi o discurso na formatura da pré-escola: "Quero usar da minha magniloquência para acusar este recinto propedêutico de fugir dos parâmetros ontogenéticos e perempitórios aprioristicamente".
Seus pais tinham um orgulho imenso de suas habilidades linguísticas, até perceberem sua astúcia na criação das palavras e sua vocação para o charlatanismo. Não era mais tempo; iria ser um bom político.
Outro dom do neologista era sua habilidade com as mulheres. Sussurrava versos que criava de repente:
"Espalhei flores de agapanto na terra submagmática de teus pés impúberes".
Isso até o dia que levou uma surra daquelas, do pai de uma das garotas quando declamava:
"Quero sugar dulçores de figo maduro de sua vulva peluginosa e provar o gosto acérrimo de sua secreção mucovaginóide".
Na verdade era só potoca. Suas falações tediosas faziam as garotas dormirem antes de chegar no ponto.
Enfim, chegava a hora de assumir sua vocação para a política. Havia estudado pouco, mas não precisava ser inteligente para enganar o povo. Seu pai era grande político da região, sempre altivo e orgulhoso de seu potencial para discursos eloquentes e criativos.
Quando eleito foi proferir o discurso de posse. A bandinha tocava o hino da cidade; fogos espalhavam centelhas no céu, acompanhados de estampidos que ecoavam para todos os lados.
Não se intimidou e falou fluentemente:
"neste dia fatídico de nossa proboscelância e hermenêutica posse, serei lacônico sobre minha visão transcedentária...tendo o prazer de ter ao meu lado essa mulher (senadora) a priori bastante rebogulativa.
Aplausos. Cumprimentos finais.
A senadora aproxima-se dele e pergunta baixinho:
_Vereador, vereador! O que é uma pessoa rebogulativa?
E ele sorrateiramente responde:
_ É uma pessoa um tanto quanto semiconscifláutica.
Gilberto Felinto (Escritor izabelense por opção)