Assentamento de Dorothy Stang no PA ainda é vítima de desmatamentos

 O desmatamento avança, principalmente, entre Pacajá e Anapu, onde a missionária foi morta. Área concentra um dos últimos recantos de vegetação nativa na região. Lavradores que moram no assentamento dizem que estão sendo ameaçados.
Quase seis anos após o assassinato de Dorothy Stang, o Jornal Nacional voltou ao assentamento coordenado pela missionária, no sudoeste do Pará e pôde observar que pouca coisa mudou. A floresta continua sendo devastada, e os agricultores ainda vivem ameaçados por pistoleiros. A reportagem é de Fabiano Villela e Jorge Ladimar.

A floresta nativa desaparece em meio à devastação. Ao custo de milhares de árvores, fazendas espalharam seus rebanhos para muito além da área permitida.
Seguindo as clareiras na mata, encontramos máquinas escondidas sob galhos e várias pilhas de troncos. O desmatamento avança, principalmente, entre os municípios de Pacajá e Anapu, no sudoeste do estado, onde a missionária Dorothy Stang foi assassinada, quando defendia a floresta e os colonos da ação de grileiros. A área concentra um dos últimos recantos de vegetação nativa na região.
Lavradores que moram no assentamento dizem que estão sendo ameaçados. “Eles entram pelo fundo dos seus lotes, tiram a madeira e você não tem direito de dizer que não pode tirar porque ele diz assim: ‘eu vim aqui não é para brincadeira’", revela uma lavradora.
Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), cerca de 200 famílias vivem hoje na região. Quarenta estão sendo investigadas por suspeita de envolvimento na devastação. “É um grupo de pessoas bem organizadas que estão tirando madeira do assentamento, não são pobres colonos sem dinheiro que estão tirando madeira. Na verdade, estão tirando mesmo, de forma deliberada, financiado por madeireiras”, diz Antônio Ferreira, coordenador do Incra em Anapu.
Em uma área do assentamento, de mata fechada, os fiscais do Ibama constataram a extração ilegal de madeira. No local, foi derrubado esse Angelim de mais de 30 metros de altura. É madeira nobre, de alto valor no mercado. E no meio da floresta, dá para ver que as toras já estavam sendo beneficiadas em uma espécie de serraria.
“Vamos fazer o embargo da área, essa área não vai mais poder ser explorada e vamos monitorar as áreas e vamos informar ao Incra. O assentado, com esse tipo de atitude, pode vir a sair do projeto de reforma agrária,” conta a analista ambiental Gracicleide Braga, do IBAMA.
A Comissão Pastoral da Terra diz que as primeiras denúncias de retirada ilegal de madeira foram feitas há quase um ano e que até hoje o clima é de insegurança na região. “Tem algumas pessoas que têm até medo de sair de casa, porque, quando os madeireiros passam, eles passam escoltados geralmente por pistoleiros, e essas pessoas estão lá indefesas. O povo quer sobreviver. Do jeito que está, não dá”, diz Padre Amaro Lopes de Souza, da Comissão Pastoral da Terra de Altamira.
 
G1