O PT no governo Dilma

"A tendência é que o PT perca algum espaço nos postos estratégicos da administração pública, especialmente se o partido, como tudo indica, ficar com a presidência da Câmara dos Deputados"
Antônio Augusto de Queiroz*
O Partido dos Trabalhadores – que foi hegemônico no 1º mandato de Lula e majoritário no 2º –  continuará como o principal partido do governo, mas terá que brigar muito para manter o poder da era Lula na gestão de Dilma Rousseff, mesmo tendo crescido nas duas casas do Congresso na última eleição.
A explicação para tanto é que aliados históricos como PSB e PCdoB cresceram, o PR, que inflou artificialmente na legislatura 2007/2010, manteve sua bancada na eleição de 2010, crescendo em relação  ao pleito de  2006, e também o PDT e o PMDB, que apoiavam e ocupavam cargos no 2º Governo Lula por adesão, agora fizeram parte da coalizão que elegeu Dilma Rousseff e, certamente,  irão exigir uma participação compatível com sua importância para a eleição.
Isso significa – ou poderá significar – que Dilma Rousseff terá que formar seu governo levando em consideração a nova realidade e a nova correlação de forças de sua base política e parlamentar, que incluirá outras legendas que também ganharam importância neste pleito.
A acomodação dos aliados históricos e dos novos integrantes da aliança e da coligação de Governo exigirá uma redistribuição de forças e, nesse cenário, a tendência é que o PT perca algum espaço nos postos estratégicos da administração pública, especialmente se o partido, como tudo indica, ficar com a presidência da Câmara dos Deputados.
A montagem desse novo arranjo, certamente, será um processo difícil, seja pela repercussão que terá no interior do PT, no caso de redução, seja pela reação dos aliados que cresceram ou foram fundamentais para a eleição e também para a sustentação político-parlamentar, no caso de não serem valorizados como acham que merecem.
O Partido dos Trabalhadores, por sua vez, utilizará como argumento para manter a sua atual quota de participação no governo federal o fato de ter aberto mão de lançar candidatos aos governos em favor dos aliados políticos em vários estados e, em algumas situações, com divisão no partido e até ameaça de intervenção, como foram os casos de Minas Gerais e do Maranhão.
O PT, legitimamente, fará toda a pressão possível para não reduzir sua importância ou espaço de poder na nova Administração. Pastas como a do Trabalho, que o partido lamenta muito ter perdido, têm pouca ou quase nenhum chance de recuperação e ainda há risco de  perda de espaço na Secretaria de Recursos Humanos, no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que responde pela política de pessoal na Administração Pública, outra área estratégica para o partido.
O partido, que escalou seus principais quadros para a disputa eleitoral, diferentemente de legislaturas anteriores, terá maior unidade política e coesão em suas ações políticas e parlamentares, o que facilitará a pressão sobre o governo em favor de manutenção de seus espaços de poder. Isto ajudará no sentido de evitar maiores perdas, mas, com certeza, não será suficiente para preservar todos os espaços atuais nem tampouco aumentar a participação.
Registre-se, entretanto, que a tendência do governo Dilma Rousseff, até por seu próprio perfil, é de valorização da meritocracia, reduzindo a escolha de auxiliares pelo critério exclusivamente político. Ela buscará, para os cargos de primeiro escalão, um perfil político com capacidade técnica. Já para os cargos de média e alta direção – abaixo de ministro de Estado – o critério será majoritariamente de eficiência, o que pressupõe dois requisitos: conhecimento técnico e capacidade de realização.
Esta análise, caso se confirme, será um exemplo típico do quanto as aparências enganam. Mesmo perdendo espaço – embora vá resistir de forma aguerrida para preservar seu poder no governo, – vai transparecer que o PT tomou conta da gestão Dilma Rousseff, quando a realidade terá sido outra completamente diferente.
Esta pequena reflexão, portanto, demonstrará o contrário do que foi dito na campanha de oposição e na grande imprensa – numa tentativa de associar a gestão Dilma a supostas práticas de corrupção e autoritarismo – de que José Dirceu e seu grupo político iriam mandar no Governo.
José Dirceu, ao contrário das acusações que lhe fazem, não foi cassado por corrupção, até porque não existe nenhum ato que desabone sua conduta durante seu período no Governo, mas por razões políticas e com o nítido objetivo de simbolicamente alvejar o que havia de mais autêntico no PT.
*Jornalista, analista político, diretor de Documentação do Diap e autor dos livros “Por dentro do processo decisório – como se fazem as leis” e “Por dentro do Governo – como funciona a máquina pública”.

fonte: Congresso em Foco