Carta aberta do Psol à população do Oeste do Pará

 

Nós, dirigentes e militantes do Partido Socialismo e Liberdade em Santarém e região, vimos a público nos manifestar acerca dos recentes acontecimentos referentes ao projeto de criação do estado do Tapajós.

Primeiramente, deixamos claro que discordamos do posicionamento tomado pelos parlamentares do nosso partido que, no Congresso Nacional, votaram contra o plebiscito que decidirá pela criação ou não dos estados do Tapajós e Carajás.

Há no PSOL/PA posições distintas acerca do tema. Nossos filiados da região metropolitana de Belém tendem a se opor aos novos estados, ao passo que em Santarém grande parte da nossa militância apóia a emancipação do Tapajós, inclusive com manifestações públicas feitas por expoentes do partido em distintos momentos de nossa vida partidária. Vale ressaltar que essa divergência não é exclusividade do PSOL. Outros partidos vivem situação similar. Geralmente, quem está fora dos territórios que buscam a redivisão, em um primeiro momento, tende a ser contra. Talvez o maior diferencial entre nós e eles é que nós vivemos aqui. 

Consideramos, entretanto, um erro grave que nossos parlamentares tenham votado pela não-realização do plebiscito, o que na prática significou uma posição contrária à livre opção a ser tomada pelo povo do nosso estado. Devemos lembrar que um dos nossos diferenciais enquanto partido está na defesa da radicalização da democracia, ou seja, primamos por estimular a população a tomar as rédeas de sua história. Plebiscitos e referendos, para nós, são instrumentos fundamentais ao ideal de democracia participativa que tanto defendemos. 

Por outro lado, aproveitamos o ocorrido para manifestar nossa opinião acerca da criação do estado do Tapajós. Defendemos o novo estado como forma de garantir uma maior atenção do poder público às necessidades sociais da região Oeste do Pará. A grande distância geográfica existente entre nossa região e a capital do estado compromete a qualidade dos serviços públicos e o nosso próprio desenvolvimento econômico e social. Precisamos de uma administração estadual que esteja próxima à realidade do povo e que consiga responder com eficiência às suas demandas. 

É importante que se diga que vemos a redivisão geopolítica desse imenso território não como um "grande sonho" carregado de mítica e ilusões, mas como uma medida administrativa necessária para possibilitar a gestão que nenhum governo do Pará poderá promover no dado quadro geográfico e na disputa desigual pela atenção estatal em relação às regiões próximas ao centro metropolitano. 

É fundamental, contudo, que a população assuma de fato a condução desse processo e se disponha não somente a discutir a criação do Tapajós, mas queira, principalmente, discutir qual modelo que se pretende, para que o novo estado não se transforme em mais um espaço de poder a serviço das elites regionais, que até esse momento estiveram ao lado dos muitos governos que nos relegaram ao abandono administrativo. A necessidade de se discutir o modelo de estado que queremos se justifica quando observamos que no Brasil muitas unidades federativas possuem dimensões geográficas bem menores do que a ora pretendida pelo Tapajós, sem que isso se traduza em participação popular e verdadeiro desenvolvimento social.
Em outras palavras, a criação do estado do Tapajós é importante, mas não suficiente para garantir o avanço social da nossa região. Pouco ou nenhum avanço será possível se a administração do novo estado ficar a cargo de políticos corruptos e oportunistas, que estão preocupados apenas em aumentar o patrimônio à custa dos novos cargos e espaços públicos que serão constituídos.

É fundamental que a sociedade se organize para participar de forma decisiva na disputa dos rumos políticos do novo estado. O protagonismo popular deve ser exercido com vigor no estado do Tapajós. Nesse sentido, propomos que não só o novo estado, mas também a sua Constituição seja aprovada em plebiscito, permitindo que a população decida por conta própria sobre as estruturas políticas e jurídicas da nova unidade federativa a ser criada.
Por outro lado, temos nítida clareza de que o voto equivocado dos nossos parlamentares sobre esse tema específico (estado do Tapajós) não anula o papel desempenhado pelo PSOL como um partido que tem impulsionado positivamente a democracia no Brasil. Temos orgulho de fazer parte de um partido que nunca se envolveu em escândalos de corrupção no Congresso Nacional e nas demais esferas de poder. Muito pelo contrário. Nossos parlamentares têm se destacado pelo combate intransigente ao desvio de dinheiro público orquestrado pelas elites corruptas e reacionárias deste país. 

Aqui no Pará, por exemplo, o deputado estadual Edmilson Rodrigues foi o único a exigir uma CPI para investigar a corrupção na Assembleia Legislativa do Estado, antes mesmo que o escândalo estourasse. Não temos dúvida de que muitas das figuras participantes desse esquema de corrupção estarão em suas zonas de influência eleitoral levantando a bandeira dos novos Estados. Sobre esse tema, é bom que se diga que parlamentares de siglas influentes como o PSDB tem fugido da CPI, como o ?diabo foge da cruz?. Por que se negar a instalar uma CPI que pretende investigar o desvio de 800 a um milhão de reais/mês? É esse tipo de conduta que não queremos para o nosso estado do Tapajós.

Lembramos aos que ultimamente têm nos criticado (alguns como estratégia política futura) que na Câmara Federal pelo menos 63 deputados, dos mais diversos partidos, votaram também contrariamente ao plebiscito do Tapajós. A nosso favor temos a dizer que assim como nossos Deputados do PSOL votaram contra o plebiscito dos novos estados, também foram os únicos a votarem 100% contra o aumento imoral de 62% que os parlamentares brasileiros deram aos seus próprios salários. Esse, como certeza, é um importante diferencial a ser considerado.

Por fim, temos a dizer que a luta que se inicia com a abertura para a realização do plebiscito também se dará dentro do PSOL do Pará, e lá estaremos nós defendendo a criação do novo Estado, considerando todos os dados e ponderando todas as razões concretas sobre sua vida pós-criação. No mais, o Partido Socialismo e Liberdade segue firme na construção de sua história como uma importante referência política da esquerda brasileira, na luta contra a corrupção e o abuso de poder, bem como na defesa de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária no Brasil. 

São esses os valores que queremos imprimir no estado do Tapajós. Só assim nosso povo verá o desenvolvimento social que tanto espera acontecer, mas que é constantemente negado pelas elites econômicas e políticas que governam o Brasil, o Pará e Santarém. Contra elas dizemos: Todo poder ao povo no estado do Tapajós!

Assinam:

Márcio Pinto: professor e ex-candidato a prefeito e a deputado estadual/PSOL; 
Maike Viera: presidente do Diretório Municipal do PSOL/Santarém; 
Eric Braga: Diretório Municipal do PSOL/Santarém;
 Gleydson Pontes: advogado;
 Érina Gomes: advogada; 
Isabel Sales: sindicalista e professora; 
Isabel Marinho: sindicalista e professora; 
Ib Sales Tapajós: juventude do PSOL; 
Wallace Carneiro de Souza: juventude do PSOL; 
Doristela Paranatinga: sindicalista e professora; 
Leuza Marques: sindicalista e professora; 
Dinorá Moda: sindicalista e professora; 
Mário Mascarenhas: sindicalista e professor; 
Elineuza Alves: juventude do PSOL; 
Margarete Ferreira: movimento popular de luta por moradia; 
Sival Sales: movimento popular de luta por moradia; 
Marilson Andrade: movimento popular de luta por moradia; 
Eli Reis: movimento popular de luta por moradia; 
Antônio Noel Dias Sanches: professor e sindicalista; 
Rionaldo Pinto de Jesus: microempreendedor; 
Adalgisa Corrêa: socióloga; 
Talita Ananda: juventude do PSOL; 
Telmaelita Rocha: professora e sindicalista; 
Shirley Oliveira: juventude do PSOL; 
Jean Marcel: servidor público municipal; 
Leuyce Melo: liderança comunitária; 
Nira Costa: militante do PSOL; 
Cristina Lima: professora; 
Auxiliadora Moura: professora; 
Everaldo Portela: professor/UFOPA; 
Márcio Figueira: juventude do PSOL; 
Felipe Bandeira: juventude do PSOL; 
Sansão Maciel Lopes: sindicalista e pescador; 
Aya Cristina Fidelis: sindicalista e professora; 
Campos: advogado; 
Iracildo Lima: PSOL/Prainha.
 
Blog do João Salame