TIME DE FIDEL PODE TER SÓCRATES COMO TÉCNICO

O ex-meia Sócrates, ídolo do Corinthians e da seleção brasileira, pode voltar a atuar ativamente no futebol. E à frente de uma seleção.
O ex-jogador deve se reunir ainda neste mês com representantes de Cuba para discutir a possibilidade de "colaborar" com a seleção nacional de futebol.
À Folha, Sócrates disse que ainda não existe nada concreto. Também não informou se será treinador. "No que eu puder ajudar, eu vou ajudar", afirmou ontem.

Fernando Santos/Folhapress
Sócrates se encontra com Luiz Inácio Lula da Silva em maio de 1984
Sócrates se encontra com Luiz Inácio Lula da Silva em maio de 1984

O ex-jogador disse que a possibilidade de ir para Cuba foi levada a ele por amigos, que vão colocá-lo em contato com a diplomacia cubana.
A reportagem procurou ontem a embaixada de Cuba em Brasília, mas não obteve informações sobre o assunto.
Se fechar com o país de Fidel Castro, Sócrates terá pela frente o desafio de comandar uma seleção inexpressiva internacionalmente --o país só disputou uma Copa até hoje.
"Mas Cuba terminou a última eliminatória sem perder. Foi desclassificada, mas saiu invicta", comentou Sócrates.
O ex-atleta também reconheceu não saber "quase nada" da atual situação do futebol cubano, mas que, ainda assim, seria um "desafio interessante" dirigir a seleção.
"O futebol nunca foi o esporte predileto deles [dos cubanos]. Talvez seja isso [que explique seu fraco desempenho]", disse o ex-jogador.
Mais do que um retorno ao mundo do futebol, Sócrates, 57, vislumbra a possibilidade de se aproximar ainda mais de uma de suas paixões.
Socialista assumido, ele diz que a chance de atuar na seleção cubana tem um peso bem mais ideológico do que o do próprio futebol.
A paixão de Sócrates por Cuba não é de hoje. Um dos seus filhos foi batizado como Fidel em homenagem ao ex-ditador Fidel Castro, que comandou a ilha até 2006.
Em entrevistas anteriores, o ex-jogador disse que o país dos irmãos Castro é o "símbolo de um sonho" de igualdade de oportunidades.
Na concepção de Sócrates, esse sistema de Cuba pautado pela igualdade tem relações com a chamada Democracia Corintiana, período da história do time paulista em que as decisões mais importantes eram tomadas por meio do voto democrático.

Martin Bernetti/France Presse
O ex-jogador brasileiro Sócrates, técnico do Liga Universitária, é recebido em Quito, em fevereiro de 1996
O ex-jogador brasileiro Sócrates, técnico do Liga Universitária, é recebido em Quito, em fevereiro de 1996

Nessa época, no início da década de 80, fala ele, o voto do roupeiro do Corinthians valia o mesmo do que o do presidente da agremiação.
Dentro desse espírito de igualdade, Sócrates, jogador do Brasil nas Copas de 1982 e 1986, diz ter uma única exigência para treinar Cuba: quer ganhar o mesmo salário pago a qualquer trabalhador.
"Disso eu não abro mão. Tenho que me sentir como um cubano, receber a mesma cesta básica, as mesmas coisas que eles têm lá, que não é pouca coisa, não."

Folha de São Paulo