TEMPO

Hoje faço anos, 35, para a média de vida do brasileiro estou a queimar metade do pavio.

Olho para trás e penso se mudaria alguma coisa, com certeza sim, entrementes, muito pouco, no mais seria quase e mesma coisa.

Apesar de tudo estou feliz, o certo é que não faço mais anos como antes, em outro tempo eu não via a hora de chegar meu aniversário para ganhar presente, comer bolo, ter festa, eu adorava. Hoje tento evitar esta inexorável dada. Antes era um dia de festa, hoje de reflexão sobre o tempo do passado e tempo do devir.

O tempo é uma percepção humana, uma abstração do engenho humano sobre o ciclo da natureza, sobre os diversos recomeços do sol, da maré...

O tempo que passou, torna-se só lembrança, é em verdade um não-tempo tendo sua profundidade esvaída pela memória, na memória não existe o ontem, nem o antes de ontem, nem o três ontonte; não existe 1 ano, 5 anos 10 anos, 35 anos; no tempo do passado tudo é apenas um feixe de atividade neural onde essa noção tão humana de tempo é relativizada: Tudo é memória apenas, e para piorar algumas se perdem, empalidecem, entristecem.

O tempo do devir é aquele que chegará, porém chega a todo momento, a cada respiração, a cada piscar de olhos, a cada palavra que passou, junto levou o tempo que agora, neste momento, já é passado.

O agora é o devir que instantâneamente se torna passado, é tão tênue a linha que divide o passado, do agora e o agora do devir, assim como é tênue a linha temporal que dividi os meus 35 anos dos meus 8 anos na casa de vovó, com meus pais hospitalizados a meses por conta do acidente.

O tempo consome-me, sinto, recalcitro, vivo...talvez amanhã amanheça chovendo...