Vila de Americano sonha com emancipação

Com cerca de 20 mil habitantes, a Vila de Americano, fundada em 1890, a 45 quilômetros de Belém, é uma das povoações mais antigas da chamada Zona da Estrada de Ferro. E a única que permanece na condição de distrito municipal – no começo, de Belém, depois, de Santa Isabel do Pará. Mas, hoje, sonha em se emancipar e reencontrar o caminho do desenvolvimento, aproveitando as suas potencialidades agrícolas e sua estratégica situação geográfica.
Nos anos sessenta, a Estrada de Ferro Belém-Bragança, deu lugar à BR 316 e outras rodovias secundárias. Como consequência,  as vilas, surgidas no rastro do empreendimento, com exceção de Castanhal, foram perdendo importância para os gestores públicos. Porém, todos, mais cedo ou mais tarde, se transformaram em municípios. Americano é a exceção.
Marituba, Benevides, Santa Izabel, Apeú e Castanhal, por terem sido transformadas em municípios, atingiram desenvolvimento bem superior a Americano, que, mais recentemente, ganhou a pecha de “Terra das Penitenciárias”. Hoje, são sete e mais duas projetadas. A fama incomoda e ofende a população local.
E, se depender da população de Americano, e do empenho de alguns deputados, esse desconforto logo terá fim. É que já tramita na Assembléia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) projeto de lei, de autoria do deputado Martinho Carmona (PMDB), para que Americano ganha a condição de município, desmembrando-se de Santa Izabel.
A proposta ganhou a adesão instantânea do deputado João Salame Neto, líder do PPS e um dos mais ardorosos defensores da criação de dois novos estados – Carajás e Tapajós- a partir do território atual do Pará.
Na segunda-feira 27/6, João Salame participou de uma importante reunião com lideranças de Vila de Americano, na Associação Comunitária local, e o sentimento geral é que o Distrito só vai se desenvolver se tiver uma gestão própria, comprometida com o seu crescimento e com o aproveitamento das potencialidades econômicas locais. Localizada  à margem de uma rodovia federal, por onde passam milhares de pessoas todos os dias, Americano, se bem trabalhado, tem muito a oferecer aos viajantes: postos de gasolina, borracharias, lojas de conveniências, bares e restaurantes podem se instalar por lá, se houver incentivo, claro.
A reunião foi articulada por dirigentes locais do PPS com a assessoria política do deputado João Salame. Compareceram representantes de igrejas evangélicas, católica, sindicalistas rurais e urbanos, empresários, pequenos comerciantes, professores e funcionários públicos, todos imbuídos do desejo de mudança, a começar pela marcação do plebiscito para que a população se manifeste contra ou a favor da emancipação.
João Salame ouviu todas as manifestações de descontentamento com a situação, a começar pelo fato de o prefeito, segundo os comunitários, se recusar a apoiar o Festival de Tapioca, marcado para começar dia 9 e devendo se estender até o dia 17, com a previsão de reunir 50 mil pessoas. Tudo decorre do fato de o presidente da Associação Comunitária ser adversário político de Mario Kato. Entretanto, a associação, estatutariamente, se declara suprapartidária e, assim, todos os comunitários estariam sendo penalizados pela indiferença do prefeito em relação ao festival, que já é realizado há 15 anos consecutivos.
O desejo de emancipação de Americano é antigo. Há 15 anos, houve um plebiscito sobre a questão, mas, embora os votos favoráveis tenham representado 80% do total apurado, não houve quorum e o projeto foi adiado sine die. Em setembro de 2010, o projeto de lei propondo a emancipação de Americano foi apresentado na Assembléia Legislativa.
  
 População reclama políticas públicas
A líder rural Maria Sagawa
Além de insatisfeitos com a administração municipal de Santa Isabel, os moradores de Vila de Americano, a 45 quilômetros de Belém, ressentem-se também de políticas públicas do governo do Estado. Segundo eles, os sucessivos governadores, desde a redemocratização do país, em 1982, só olham para o povoado na época de eleição ou para planejar  a construção de mais penitenciárias. “Aqui não chegam políticas públicas, não temos saúde, educação, cursos profissionalizantes ou qualquer serviço que denuncie a presença do Estado ou do Município. Se na sede municipal (Santa Isabel), a insatisfação do povo com o prefeito (Mário Kato) é de 90%, aqui é 100%”, queixa-se um comunitário, cujo nome não se revela por razões óbvias.
A população local, na reunião com o deputado João Salame, queixou-se de discriminação, abandono e falta de oportunidades, inclusive para trabalhar como agentes prisionais nas próprias penitenciárias. As lideranças acreditam que superarão essas dificuldades se ganharem a condição de município. Até porque surgiram mais empregos públicos. Hoje, apenas o sistema carcerário oferece 700 vagas, sempre preenchidas por gente de Belém ou de outros municípios. Uma empresa privada, a Sococo completa o universos de geração de empregos. Atualmente, oferece 200 vagas mas, com a implantação do envasamento de água de coco, deverá gerar outros 500 empregos. Em todo caso, insuficientes para atender a demanda reprimida e crescente.
Para que um Distrito seja transformado em município, é preciso que tenha pelo menos cinco mil habitantes. Americano tem 15 mil e cinco mil eleitores. Se vier a ser criado, já será maior que 30 144 municípios do Pará, atualmente.  
Sobre o abandono de Americano pelos governantes, municipais e estaduais, discorreu Ronaldo Batista, um gerente de empresa. Disse que as lideranças têm, em vão, recorrido a diversos órgãos do Estado em busca de apoio para atender as necessidades locais. Acrescentou que o governo deveria dar uma compensação a Americano pela instalação das penitenciárias, que tornam o povoado mal visto e até pouco atraente para possíveis investidores. Segundo ele, a Associação Comunitária já redorreu à secretária de Esportes, para pedir material esportivo; a outras secretarias, pedindo o NavegaPará, o programa de inclusão digital do governo do Estado, delegacia de polícia, posto médico e não são lograram êxito.
Outro comunitário reclamou da falta de presença do Incra e do Iterpa para regularizar as áreas agrícolas. Modesto Dias da Silva, dirigente da Associação, disse que a entidade está sofrendo retaliação do prefeito, assim como do governo. “É incrível: temos sete penitenciárias e nenhum colégio”, ironizou.
Presidente do diretório do PPS, Ivana Gorete
 A presidente do diretório municipal do PPS, Ivana Gorete, defendeu que a farinha de tapioca de Americano seja considerada patrimônio cultural do Pará. Enfim, todos se manifestaram demonstrando os problemas locais e as razões para que Americano seja transformado em município.
“Sem um governo perto da gente, agindo com a mais absoluta transparência na aplicação dos recursos públicos, não teremos condições de crescer e viver com dignidade”, afirmou uma lavradora.  

Salame promete entrar na luta
 Depois de ouvir as lideranças comunitárias de Americano, durante quase duas horas, e de ser enaltecido por sua postura séria e transparente no exercício de seu mandato, o deputado João Salame agradeceu o convite para a reunião e se colocou à disposição da Associação Comunitária para lutar por suas reivindicações. “Temos que estar sempre disponível para conversar com a população. O bom político não é aquele que reúne apenas com os seus correligionários. Precisamos ouvir o povo todo,  para saber o que é mais imediato”.
Salame teve cerca de 200 votos em Santa Isabel, que atribui ao apoio do vereador Vadico. Mas, em nome desses 200 eleitores, prometeu empenhar-se na luta pela emancipação de Americano e pela obtenção das obras e serviços que cobram do governo. E disse que vai encaminhar cada demanda ao respectivo secretário. O primeiro será Nilson Pinto (Educação), com quem terá uma audiência por esses dias. “Nem tudo a gente vai conseguir, mas isso não é motivo para desânimo. É que o governo tem mesmo muitas demandas e ainda está colocando ordem na casa”.
Ao final da reunião, Salame abonou várias de filiação ao PPS, que acaba se reorganizar em Santa Isabel do Pará. O deputado prometeu reuniu pelo menos uma vez por mês com as lideranças.
Blog do João Salame