O passado não condena

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Lula deixava a vítima sangrar um tempo, até avaliar se valeria à pena fazer a sutura. Foi o que fez com José Sarney, que foi duramente golpeado pela mídia por mais de 40 dias, pautando-lhe a renúncia, até que Lula resolveu sair-lhe em socorro, blindando-o definitivamente.
Dilma Rousseff age rápido: em dois dias determinou a blindagem da ministra Ana de Hollanda e em um dia mandou que a infantaria do governo armasse uma couraça em torno do ministro Palocci, a ponto de exigir uma declaração, colada acima, do presidente do Conselho de Ética da presidência.
Do ponto de vista governamental a presidente manobra corretamente: não é bom para governo algum estar às voltas com posturas duvidosas dos seus auxiliares.
Do ponto de vista ético a decisão do conselho estabelece um precedente eivado de uma lógica temporal esquisita: auxiliares do governo não podem ser cobrados por erros do passado.
Isto carrega uma pesada dose de cinismo, pois é o próprio governo, através de seus órgãos de informação, que vasculha a vida pregressa de todos os candidatos cujos padrinhos políticos desejam ver nomeados a algum cargo ou função na estrutura da União. Isto, então, está revogado, pela decisão do Conselho de Ética a respeito de Palocci.
Se o entendimento se rebatesse nas decisões estaduais, o governador Simão Jatene não deveria ter aceito a demissão do ex-diretor geral do Detran, Sergio Duboc: o que lhe é imputado foi no passado e, segundo o mais alto tribunal de ética da República, o passado não condena.

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