ENÓLOGO: CHIQUE

Este caboco izabelense já foi chique um dia.

Nos tempos de federal viajei para Porto Alegre para apresentar minha pesquisa sobre a língua dos índios Makú que vivem na fronteira do Amazonas com a Colômbia.

Foi uma viagem incrível, sempre que lembro-me desta viagem, vêm-me a mente, além das lindas gauchas que conheci, uma tarde em que fui a um supermercado, era enorme com várias fileiras de gôndolas, eram uma 30 filas que se dividiam ao meio, as da frente e as de trás.

Nesta tarde eu fui chique e virei enólogo. Chamou-me a atenção os pequenos stands para degustação de vinho, em uma fileira sim outra não tinha um stand desse, chega meus olhos brilharam, era vinho do Chile, da Argentina, do Sul, da Itália, França, Portugal... era vinho de todo canto.

Predispus-me a provar todos, comecei no primeiro stand da esquerda para direita nas fileiras da frente, depois passei para os stands das fileiras de trás.

Peguei no primeiro stand, um copinho de café cheio de um vinho chileno, coloquei na boca, jogueio de um lado a outro para que todas as papilas gustativas fossem provocadas, senti o gosto e engoli, pedi mais uma dose de R$0,50, e a moça respondeu-me que era apenas para a degustação dos clientes, a partir dali eu deveria comprar uma garrafa, entendi muito bem o recado e fui para o outro stand carregando o copinho de café que virou mau parceiro nesta aventura.

No segundo stand tinha um vinho francês, traguei-o, provoquei as papilas e engoli, não pedi a repitota, como dizíamos no meu tempo de CEAL, já sabia o esquema, rumei para outro stand.

Do sexto stand para frente eu já não degustava mais, eu já jogava direto na boca, engolia e ia para outro stand.

Quando terminei os stands da frente, fui para os stands de trás. Lembro-me que eu já andava com o braço esticado oferecendo o copinho que sempre era recomposto com uma nova marca de vinho que eu já nem lembro qual era, nem de onde era.

Quando contornei as gôndolas para atacar os stands de trás, eu já estava andando de um lado para o outro entregando a conta d'água, mas não parei até chegar no último stand onde olhei para a funcionária e perguntei.

-Você não me dá mais um pouquinho para eu ir embora?


P.S.: Tinha stand de degustação de queijo também, foi onde comi pela primeira e última vez um gorgonzola, desmancha na boca. Voltei mais três vezes ao local antes de viajar de volta para o Pará, da segunda vez para frente, eu sempre levava um convidado para degustar comigo. Foi lá que eu aprendi a tomar vinho seco e desprezar o suave.