TEMPO, TEMPO MANO VELHO

Estou nesta linha de envelhecimento e maturidade que me acompanha não é de hoje, o problema é que cada vez mais tenho mais consciência disso. Às vezes gostaria de ser alienado, de me contentar em ver novela e envelhecer no sofá sem me dar conta das transformações espaço-temporais que me rodeiam.

A ignorância é uma dádiva.

Hoje é sábado, ou melhor, agora já é domingo, estou a sorver uma bebida espumante da qual me sirvo sempre que o copo esvazia, estou escutando Boys dont cry da  The Cure, banda que influenciou o Renato Russo e a mim. Vendo os clips, reconheço-me na forma de dançar do vocalista da banda, é como eu danço rock desde há muito, desde o tempo em que nós (eu, Patrícia Marques, Aliandro, Gica, Simone , Nirson, Taqueuspa...) íamos para a praça da bandeira ouvir rock, tomar cachaça e nos sentir diferentes dos outros garotos da época que só escutavam house.

Foi um tempo bom de afirmações e auto-afirmações, traçávamos nossos destinos, prevíamos nosso futuro. O estranho é escutar hoje, 17 anos depois, as mesmas músicas que ouvíamos e avaliar o que deu certo e o que não deu daquilo que pensávamos para nossa vida, para  a nossa cidade.

Do meu grupo, só eu continuei a trilhar o caminho da política que sempre foi uma paixão para mim, o Nirson também, tornou-se vereador lá na cidade dele.

Essa é uma história do tempo que não volta mais, do meu tempo, da minha vida que ficou pra trás. Este é só mais um dos inúmeros quadros que estão pendurados na parede de minha memória, tenho lindas telas penduradas nela.

Se um dia, caro leitor, você escutar Boys dont cry e se emocionar de alguma forma, se esta música for capaz de alterar o processo bio-químico de seu corpo, saiba, eu estou aqui também, temos uma vida em comum que se une pela arte, pela música, pelo prazer de ser eternamente jovem, não em corpo, antes em mente, antes em espírito. Brindemos a vida que nos é grata por nos permitir experimentar as mais diversas sensações somáticas. Afinal, é como diz a música: Boys dont cry. (apesar disso, creio que choro).