MATURIDADE E SENSIBILIDADE

Em meu processo de amadurecimento intelectual percebo que fico mais sensível. Posso exemplificar isso com a ajuda da Elis Regina.

Uma das boas coisas de se ter um certo tempo de vida é a oportunidade de poder reler antigos conceitos, isso acontece com muita profusão, hoje, em minha vida. 

Eu já havia feito isso quanto a Chico Buarque com a preciosa ajuda de meus amigos Jão Bosco Maia e Carla Fagundes, nestes últimos dias estou relendo Elis Regina.

Sempre gostei mais de rock, porém a música popular brasileira também sempre me acompanhou de perto e com ela obviamente a Elis Regina. Sempre gostei somente das músicas mais conhecidas dela que podem ser encontradas no CD "Elis - O Mito" que traz canções como Romaria, que se o cara tiver tomando uma, se ele escutar, na terceira chora; Águas de Março, Fascinação e assim por diante. As músicas menos comerciais, eu simplesmente desprezava. Hoje, porém, na releitura que faço de Elis, continuo dando muito valor às músicas que antes dava, Romaria na voz de Elis é uma obra de arte que beira a uma etérea perfeição. O que mudou agora é que passei a gostar das músicas menos comerciais do início de sua carreira que podem ser encontradas no Cd Dose Dupla que trás dois LPs do início da carreira da artista.

Não só passei a gostar, mas a valorizá-las intensamente, reconhecer o valor artístico da obra, não apenas ter a percepção dos aspectos mais sensorias como melodia e letra, mas aprofundar a sua compreensão social, histórica, cultural, ideológica; aspectos que não podem ficar de fora na análise artística de uma obra de arte.

Essa sensibilidade de sentir a obra enquanto arte e emoção, é que eu acredito ser uma dádiva da maturidade.

Uma coisa  é ler Machado de Assis com 16 anos  e reler as mesmas obras com 34. Assim é escutar Elis com15 e fazer sua releitura com 34. A diferença quantitativa, implica na diferença qualitativa da percepção de uma mesma obra. E nessa diferença qualitativa é que reside a sensibilidade proporcionada pela diferença quantitativa dos anos.

Triste o homem cujo passar dos tempos não lhe trás a madura idade, e se traz, traz disssociada da sensibilidade que é o que há de melhor no processo, inexorável e paulatino, de envelhecimento.